Nos
últimos 250 anos, as atividades humanas têm vindo a acelerar as emissões de
gases de efeito de estufa, particularmente as emissões de dióxido de carbono
(CO2).
Os níveis de CO2 na atmosfera passaram de 280 ppmv ao nível
pré-industrial, para 384 ppmv em 2007; Isoladamente, os oceanos absorvem cerca
de 25% do CO2 atmosférico de origem antropogénica
correspondendo a cerca de um-terço do CO2 antropogénico
produzido nos últimos 200 anos. As trocas gasosas do sistema ar-água vão
acompanhando este aumento de carbono atmosférico mas a um custo. À medida que o
CO2
aumenta,
a pressão parcial do CO2 (pCO2) também vai
aumentando (fenômeno conhecido como hipercapnia) na água do mar, a concentração
de íons hidrogênio cresce, a concentração de íons carbonato diminui e a
capacidade de absorção adicional de CO2 fica
limitada.
A absorção de carbono
antropogênico desde 1750 tem sido responsável pela diminuição média do pH em
0,1 unidades, atualmente o pH médio dos oceanos é de 8,1. Apesar do decréscimo
de pH ser apenas de 0,1 unidades. Ainda que a absorção de CO2 pelos
oceanos venha a atenuar a dimensão do aquecimento global, este desequilíbrio no
pH dos oceanos tende a afetar profundamente o biota marinho.
Caus
a biota
Em particular, é esperado
que a acidificação progressiva tenha impactos negativos sobre o processo de
calcificação utilizado por vários organismos na produção de conchas ou placas a
partir de carbonato de cálcio (CaCO3)
(e.g. corais, pterópodes, bivalves, crustáceos) e sobre as espécies que deles
dependem. Os consumidores primários, que estão na base da cadeia alimentar
marinha, sustentam os restantes níveis tróficos. O desaparecimento ou redução
desses organismos poderá contribuir em grande escala a existência de outras
espécies e em última instância contribuir para um futuro desequilíbrio
socioeconômico, uma vez que os moluscos, por exemplo, formam uma parte
significativa da produção mundial de pesca e aquacultura.
Mas, os oceano são fonte ou
sumidouro de carbono atmosférico?
Sendo que o carbono está nos
oceanos sob forma mineral, de bicarbonatos, carbonatos e dióxido de carbono
dissolvido, constituindo o sistema inorgânico de carbono. O seu ciclo natural
engloba a terra, os oceanos e a atmosfera e daí ser caracterizado como um dos
grandes ciclos biogeoquímicos. Nos oceanos, os bicarbonatos resultantes da
alteração das rochas calcárias superficiais dos continentes – provocada pela
acidez natural das águas pluviais e favorecida pela meteorização e pela erosão
mecânica – e transportados pelos rios, precipitam sob a forma de carbonatos
constituintes do exosqueleto e da concha dos animais marinhos.
Nos oceanos, as trocas de CO2 ocorrem
muito facilmente e são controladas principalmente pelas temperaturas à
superfície, correntes de circulação e pelos processos biológicos de fotossíntese
e respiração e da turbulência das águas. A absorção de CO2 é
favorecida particularmente quando a temperatura do oceano à superfície é mais
fria, dado a maior solubilidade do CO2 em
águas de baixas temperaturas. Em águas mais quentes, como nos trópicos, poderá
ocorrer libertação de CO2 para a atmosfera, desde o
fundo do oceano.
A vida no oceano consome e libera grande quantidade de CO2, mas ao contrário do
que acontece em terra o ciclo de carbono entre a fotossíntese e a respiração
varia muito rapidamente uma vez que não existem efetivos de armazenamento de CO2, como as árvores ou
o solo. Existem extensas populações de plâncton fotossintético (fitoplâncton)
que alimentam grandes quantidades de plâncton (zooplâncton) em poucos dias. No
que diz respeito ao carbono residual do zooplâncton, pode dizer-se que as
quantidades são reduzidas uma vez que as taxas de deposição no fundo dos
oceanos se realizam a uma escala temporal muito longa. Pode dizer-se que o
oceano é um sumidouro eficaz quando uma população de fitoplâncton retira mais
CO2 através da
fotossíntese do que aquele que é devolvido pela respiração por toda a
comunidade (fitoplâncton e zooplâncton, e outros organismos que vivem nas camadas
superficiais).

O oceano, com as suas
reservas de carbono sob a forma de carbonatos dissolvidos, comporta-se como um
regulador das trocas com a atmosfera. Se o teor de carbono diminui na
atmosfera, o oceano liberta uma quantidade que contrabalança esse decréscimo.
Inversamente, quando esse teor aumenta, o oceano absorve o excedente. Foi
através deste sistema de libertação e de absorção que o teor de carbono se manteve
estável na atmosfera durante milhares de anos. Pode dizer-se que o oceano tem
uma capacidade tampão em relação ao aumento do CO2 atmosférico. Mas a absorção oceânica é lenta:
são necessários vários séculos para que as águas superficiais, que absorveram o
gás, sejam transportadas e misturadas nas camadas intermédias e profundas dos
oceanos. O oceano levará séculos ou dezenas de séculos para absorver o excesso
de carbono atmosférico gerado pelas atividades humanas.
Consequências da
acidificação dos oceanos
Na atmosfera, o CO2 é um
gás quimicamente inerte mas quando é dissolvido em água do mar, torna-se mais
reativo e participa em diversas reações químicas, físicas, biológicas e
geológicas, muitas delas extremamente complexas. O ciclo de carbono inorgânico
no oceano é um dos mais importantes equilíbrios químicos marinhos e é
responsável pelo controle do pH na água do mar. Dada a natureza alcalina da
superfície oceânica, a água do mar é capaz de absorver grandes quantidades de
CO2
da
atmosfera através de processos inorgânicos.
CO2 + H2O +
CO32-
→
HCO3-
+
H+
+
CO32-
→
2HCO3-
Dois efeitos são esperados:
a. A produção biológica de corais assim como a produção
do fito- e zooplâncton calcificadores na alterada de água pode ser inibida ou e,
b. A dissolução de carbonato de cálcio (CaCO3) no fundo do
oceano será acrescida.
Prejuízos diretos incluem o
impacte do aumento da concentração de CO2 e a
acidez, que poderá afetar vários estágios do ciclo de vida dos organismos
marinhos. Prejuízos indiretos incluem o impacte resultante de alterações na
disponibilidade ou na composição de nutrientes resultando do aumento de acidez.
A acidificação dos oceanos não é uma consequencia direta das alterações
climáticas, mas sim uma consequencia das excedentes emissões antropogênicas de
carbono atmosférico que têm ocorrido nas últimas décadas. É necessário agir
agora para evitar o risco de danos irreversíveis nos oceanos.
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